Agilidade Organizacional na Era da IA Generativa
Alexandre Klaser
Fundador @ KCS
Agilidade organizacional é a capacidade de uma empresa de se adaptar rapidamente a mudanças, responder a incertezas com flexibilidade, aprender e inovar continuamente para gerar valor de forma sustentável, sem perder impulso ou visão.
Estamos em 2025. A essa altura, não faltam evidências de que o mundo virou de ponta-cabeça. Pandemia, transformações climáticas e mudanças culturais profundas…
Você pode chamar esse mundo de VUCA, BANI, RUPT, ou TUNA, mas o que realmente importa é que estamos vivendo em um momento onde saber responder rapidamente às incertezas é mais relevante do que planejar minuciosamente um futuro imaginado.
Por que continuamos tentando superar os desafios do século XXI com práticas de gestão do século XIX?
O peso do passado
Uma fábula organizacional
Era uma vez em uma empresa como muitas outras…
A Vaca Sagrada
Defende as reuniões de status, o PMO, o comitê de comitês. Adora uma estrutura. Mas não percebe que o mundo mudou — e ela ficou parada no tempo.
“É assim que fazemos há anos.”
O Elefante na Sala
Vê tudo. Sabe que os processos engessam. Sabe que o time está frustrado. Mas não fala. Se esconde atrás de cerimônias formais, relatórios e compliance.
"Ah sim, não funciona, mas mudar dá muito trabalho!"
A Preguiça Pragmática
Parece lenta… mas é estratégica. Não gasta energia à toa. Ela descobriu a IA Generativa e sua vida mudou.
“Se eu posso testar 5 ideias em 5 minutos, por que passar 5 semanas planejando a ideia 'perfeita'?”
Precisamos romper com os velhos paradigmas!
A GenAI não é solução mágica — mas é talvez o maior catalisador de mudança que já tivemos nas mãos.
Mecanicismo vs. Organicidade
Gestão Mecanicista
  • Modelo herdado da Revolução Industrial.
  • Assume um mundo linear e determinista.
  • Rigidez e inflexibilidade disfarçadas de método.
  • Gera uma cultura política, defensiva, avessa ao risco.
Gestão Orgânica
  • Parte do princípio de que organizações são sistemas adaptativos complexos.
  • Em vez de tentar antecipar o futuro, foca na capacidade de fornecer respostas rápidas.
  • O comportamento é emergente, mutável.
  • Promove uma cultura de aprendizado contínuo, adaptabilidade e confiança.
O custo da Gestão Mecanicista
60%
Da Jornada
Tempo médio que executivos passam em reuniões
(Fonte: HBR)
50%
De Tempo Perdido
Tempo médio considerado perdido em reuniões
(Fonte: Board Intelligence)
$ 37 Bi
Custo Anual
Total do custo das reuniões improdutivas nos EUA
(Fonte: Business Insider)
2.000 h
Por Semestre
Tempo gasto em uma empresa em cada ciclo de planejamento
(Fonte: consultoria realizada pelo autor)
Sacrificando as Vacas Sagradas
Digo, questionando certas crenças…
Crença 1: Uma organização precisa de estrutura fixa
Gestão Mecanicista: organizações são desenhadas com áreas funcionais estáticas, hierarquias rígidas e papéis definidos de forma permanente. A estrutura existe para garantir controle e previsibilidade. A colaboração é limitada.
Gestão Orgânica: estruturas mais fluidas e adaptáveis, moldadas conforme o contexto e os objetivos, tendendo a uma Networked Agentic Organization (NAO).
“Departamentos são ótimos para gerenciar papéis. Mas clientes não compram organogramas — pagam por algo que tenha valor para eles"
Crença 2: Orçamento precisa ser anual
Gestão Mecanicista: budget anual com ciclos fixos de aprovação, disputas políticas por verba. Processos que não aceitam revisão, dada sua complexidade inerente.
Gestão Orgânica: recomendações de alocação progressiva com base em resultados e sinais contextuais. Smart Rolling Forecast (SRF) tendendo ao Dynamic, Context-Aware Resource Allocation.
"O dinheiro mais bem investido é o que ainda está disponível para a próxima boa ideia.”
Crença 3: Planejamento fixo traz segurança
Gestão Mecanicista: planos semestrais baseados em escopo e entrega. Planejamento detalhado como símbolo de competência. Sem plano, não há budget e nem headcount. Equipes se "comprometem" e jogam o jogo.
Gestão Orgânica: dada uma visão estratégica, simulação contínua de cenários de valor, priorização com base em dados dinâmicos, respostas rápidas a sinais emergentes. O Memory Instance Gated Transformer (MIGT), usado para gestão de portfólios financeiros, pode ser uma inspiração.
“É melhor revisar o plano do que justificar o fracasso.”
Crença 4: Uns decidem, outros executam
Gestão Mecanicista: ênfase em controle, escopo e cronograma fixo. Terreno fértil para a Lei de Goodhart. Liderança hierárquica, controladora, centralizadora. Tendência a se criar um middle-management muito político e avesso ao risco.
Gestão Orgânica: Leadership as a Service (LaaS). Governança adaptativa, foco em outcomes. IA oferece visão preditiva e dados em tempo real e suporte à decisão, permitindo uma delegação inteligente e responsiva, liberando líderes para focar em cultura e contexto.
“O papel da liderança não é controlar o caminho, mas liberar a passagem.”
Crença 5: Erro é falha
Gestão Mecanicista: se o plano 'perfeito' feito há 6 meses deu errado é porque alguém errou na execução. Executivo dá soco na mesa e exige que cabeças rolem.
Gestão Orgânica: foco em hipóteses e experimentos, fail fast, aprendizado real, IA como parceira para testar hipóteses antes de comprometer grandes recursos. Transparência que estimula conversas honestas o tempo todo.
“Errar ficou mais barato. Insistir no erro é que continua caro.”
Crença 6: Eficiência é o fim máximo
Gestão Mecanicista: a organização é uma máquina a ser ajustada. O foco está em cortar custos, eliminar variabilidade e manter a estabilidade. Iniciativas são aprovadas com base em previsibilidade, não em potencial de aprendizado.
Gestão Orgânica: IA permite experimentar com risco calculado, aprender rapidamente e ajustar rumo. A busca por eficiência dá lugar à eficácia evolutiva — fazer a coisa certa no momento certo, mesmo que 'imperfeita'.
“Não queremos ser eficientes em fazer o que não deveríamos estar fazendo.”
Crença 7: Framework bom é framework aplicado igual para todos
Gestão Mecanicista: adoção dogmática e top-down de processos e frameworks (SAFe, Scrum, OKRs), sempre visando uma uniformidade que facilita o controle. "O ágil que o gerente gosta".
Gestão Orgânica: frameworks são kits de ferramentas, não manuais sagrados. A ênfase está na emergência de boas práticas, não na replicação de modelos. Curadoria de princípios e não imposição de ritos. Em vez de “seguir o processo”, os times perguntam: “Qual prática faz mais sentido aqui e agora?”.
"Agilidade de verdade não se mede em quantos ritos você segue, mas em quanto valor você entrega."
Crença 8: Precisamos medir tudo para garantir controle
Gestão Mecanicista: valor é confundido com volume. Times são pressionados a entregar mais tarefas, preencher mais planilhas, gerar mais relatórios. A obsessão por métricas cria burocracia e distorce prioridades.
Gestão Orgânica: com IA, a medição se torna mais inteligente — não porque tudo é automatizado, mas porque somos capazes de fazer perguntas melhores, escolher indicadores mais relevantes e interpretar padrões com mais contexto. Métricas deixam de ser instrumentos de vigilância e passam a ser ferramentas de aprendizado e evolução contínua.
“Quando tudo é medido, o que importa se perde no ruído.”
O papel da GenAI em cada contexto
E agora? Por onde começar?
Se você faz parte do middle-management de sua empresa e sentiu que parte dessa conversa foi uma provocação direta... é porque foi mesmo!
Mas não é um ataque — é um convite. Um convite para transitar do controle para a confiança, da repetição para o aprendizado, da rigidez para a relevância.
(E para deixar de gastar metade do seu tempo em reuniões desnecessárias!)
Coisas que você pode fazer já — sem esperar por uma revolução estrutural
Crie clareza, mesmo quando não há certeza
Em vez de cobrar um plano perfeito, ajude seu time a entender o propósito, o problema e o valor que está em jogo.
Seja curador de perguntas melhores
Use sua posição para abrir espaço ao diálogo, à dúvida e ao teste. Troque “como vamos entregar isso?” por “o que realmente importa entregar?”
Explore a IA com mente aberta, não com receio
Mostre ao seu time que a IA é uma aliada. Use-a para aprender mais, decidir melhor e enxergar além dos seus próprios limites.
Desafie uma vaca sagrada
Questione um ritual, uma métrica ou uma estrutura que perdeu o sentido. Traga dados e propósito para a conversa.
No fim das contas, você tem mais poder do que imagina
“O futuro das organizações não será construído por visionários isolados no Olimpo — mas por gente como você, que decide fazer diferente no meio do caminho.”